Pesadelo
Vídeo do ebook multimídia O Centro do Universo - "Uma chuva grossa, ia e vinha, carregando o entorno..."
Trecho de "O Longo Caminho", capítulo do ebook multimídia "O Centro do Universo", de Paulo Santoro: - ouça sua música, veja seu vídeo, leia um trecho...
O Centro do Universo / O longo caminho / Pesadelo:
"... Uma chuva grossa, carregada de partículas que se elevaram aos céus, ia e vinha, carregando o entorno dramático que se avolumava em sombras e perigo.
Especulou-se após a tragédia que o turbilhão de vento giratório, impossível de deter, avançou terra adentro, rasgando estradas, derrubando pontes, estourando valiosos diques de preciosíssima água cuidadosamente guardada, controlada e preservada. Com mais um golpe da serra furiosa cortando todo um flanco do morro acima das casas onde morava, este veio abaixo. Adicionado à água que corria, formou um rio marrom amarelado caudaloso, engrossado de pedras, árvores, de tudo que havia à sua frente, deslizando em velocidade vertiginosa, engolindo e arrastando o que surgisse em seu caminho. Arrasador. Indefensável.
Do outro lado da encosta, simplesmente via, observava. Não podia fazer nada, apenas observar, aterrorizado. Nem duzentos tratores de grande porte, alinhados esteira a esteira, descendo morro abaixo de maneira desgovernada, conseguiriam minimamente se aproximar do estrago causado. Em questão de minutos, nem uma das antigas bombas nucleares, artefatos humanos de guerra de destruição letal, provocariam tamanho revolver de terra, tantas mortes num golpe só.
De longe, no alto, vi bem a gigantesca cobra de terra deslizar célere, e com seu peso quebrar e arrastar todas as casas de sua vizinhança, o bairro inteiro. Vi minha casa rachar ao meio, vi explodirem em direção ao céu multicoloridas capas de livros, vi minha mãe arremessada pela janela... levada morro abaixo, tentando se agarrar a alguma coisa, uma pedra, um galho de árvore que surgira do nada em aflitiva tentativa de salvamento, a vi desaparecer junto a muitas outras no espesso caldo amarelado, avermelhado, alucinado...
Não demorou, talvez, nem dois minutos, aquele filme de horror. Tornei a vê-lo infinitas vezes, sempre, sempre, em teimoso pesadelo recorrente, ao longo de toda minha vida.
Era meu primeiro medo maior, o incômodo principal, torturante e repetitivo, que vinha me assombrar sempre no momento em que estava mais enfraquecido, indefeso, desprovido de qualquer possibilidade de resistência — enquanto dormia, nos sonhos. Justamente quando deveria repousar, relaxar, tinha períodos das mais extenuantes batalhas, dos mais ardentes embates. Lutava desesperadamente com meu pesadelo, que renovava minhas piores memórias, minhas mais dolorosas e traumáticas imagens."
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